Gestão de Pessoas

Burnout: previna incentivando o direito à desconexão

17 min de leitura | 23 de fevereiro 2023

Cansaço excessivo, dores de cabeça, queda no rendimento, insatisfação constante no trabalho – essas são grandes características do Burnout. A Síndrome de Burnout, causada por situações extremas de estresse no trabalho, afeta a saúde psicológica do colaborador, impactando na sua produtividade.

O Burnout foi descrito pela primeira vez em 1974, mas foi somente no início de 2022 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a síndrome como uma doença ocupacional, dando a quem é diagnosticado com esgotamento profissional as mesmas garantias trabalhistas e previdenciárias previstas para as demais doenças do trabalho.

Mas, como diz o velho ditado, “é melhor prevenir do que remediar”. Por isso, neste artigo, queremos falar de algumas estratégias importantes no combate ao Burnout, incluindo uma que parece simples, mas que é muito pouco discutida no Brasil: o direito à desconexão. 

Descubra o que você pode começar a fazer pela sua equipe agora!

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O que é o Burnout e como ele afeta as pessoas?

Você saberia identificar o Burnout em uma pessoa da sua equipe? Assim como outras doenças psicológicas, o Burnout pode não ser muito evidente no início.

Entretanto, ele já é bem comum. A International Stress Management Association (Isma) fez um levantamento que revelou algo triste sobre o Brasil: somos o segundo país com mais casos de Burnout, superando até mesmo os Estados Unidos e a Alemanha. Ficamos atrás apenas do Japão.

Pode não ser fácil identificar o Burnout, pois os seus sintomas se assemelham a uma exaustão e ao estresse comuns do dia a dia. Mas a grande diferença é que o cansaço da Síndrome de Burnout não cessa, mesmo com períodos de descanso.

E o pior: “pode evoluir para um quadro de depressão profunda e, se não tratada, levar ao suicídio”, de acordo com Veridiana Moreira Police, diretora jurídica da Associação Brasileira de Recursos Humanos Seccional São Paulo (ABRH-SP).

 

O que significa ter um Burnout?

Ter um Burnout significa estar vivenciando um estado de esgotamento físico e mental extremo, geralmente causado por um prolongado período de estresse intenso no ambiente de trabalho. Essa condição não se limita apenas ao cansaço momentâneo, mas representa um estado crônico de exaustão que persiste mesmo após períodos de descanso.

Os sintomas do Burnout incluem uma sensação constante de fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, diminuição do desempenho no trabalho, isolamento social e alterações no sono. O indivíduo pode começar a se sentir desconectado do trabalho, desmotivado e, eventualmente, desenvolver um sentimento de desesperança em relação às suas responsabilidades profissionais.

 

Como identificar o Burnout em um colega de trabalho

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o Burnout como uma condição “resultante de um estresse crônico associado ao local de trabalho que não foi adequadamente administrado”.

Então, podemos afirmar que se um colega está estressado ele está, automaticamente, com Burnout? Não, não é bem assim.

Em seu artigo na Entrepreneur, o consultor de negócios Pierre Raymond elenca 10 sinais de alerta da Síndrome de Burnout. São eles:

  1. Cultura tóxica no local de trabalho;
  2. Trabalhadores exaustos;
  3. Baixos níveis de concentração;
  4. Falta de motivação;
  5. Colaboradores se irritando facilmente;
  6. Níveis mais baixos de produtividade;
  7. Diminuição da qualidade do trabalho;
  8. Um sentimento de cinismo;
  9. Diminuição da saúde pessoal;
  10. Disputas no local de trabalho.

E não precisa esperar que todos os 10 sinais apareçam ao mesmo tempo. Basta que alguns deles estejam presentes para que a Síndrome de Burnout se instale em um colaborador ou colaboradora.

Sendo assim, se você que é líder, já começou a identificar alguns desses sinais, já pode começar a adotar estratégias para começar a desmontá-los. Mais abaixo, aqui neste artigo, vamos falar melhor sobre como é possível fazer isso.

 

Quais são os três pilares da Síndrome de Burnout?

Você já deve ter ouvido falar nos três pilares do Burnout. É importante conhecê-los para identificar a síndrome. 

Segundo a psicóloga Miryam Mazieiro, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista à CNN, “o Burnout vem caracterizado em três dimensões, que são a exaustão emocional, a despersonalização e a baixa realização profissional”. 

Diversas literaturas falam sobre essas três dimensões, ou três estágios da Síndrome de Burnout. Vamos falar um pouco mais sobre eles agora.

 

Exaustão emocional

Pode-se dizer que o Burnout começa com a exaustão emocional, que é o primeiro estágio. Aqui, o profissional sente um cansaço excessivo e começa a perder o interesse pelo trabalho.

 

Despersonalização

Na segunda fase, há uma despersonalização, uma ausência de sentimentos em relação aos colegas de trabalho e até mesmo aos clientes.

 

Baixa realização profissional

Por último, ocorre a baixa realização profissional. Neste momento, o colaborador afetado pela Síndrome de Burnout se isola e pode entrar em depressão.

Outros sintomas dessa fase do Burnout são dores pelo corpo (fibromialgia), esgotamento de energia, letargia (estado de profunda e prolongada inconsciência, semelhante ao sono profundo), irritabilidade, baixa tolerância com pessoas, transtorno alimentar, transtorno do sono e sentimentos de menos valia.

Já podemos ver que o Burnout não é simplesmente um cansaço, não é mesmo? Ele causa sofrimento físico e psicológico. Logo, combatê-lo é o melhor que podemos fazer. Mas como? Falaremos sobre isso no próximo tópico.

 

Que atitudes adotar para evitar o Burnout nos membros da equipe?

Você sabia que a maioria das pessoas relacionam o Burnout a lideranças ruins? Foi o que descobriu a Mindsight, empresa de tecnologia especializada em gestão de pessoas.

Numa pesquisa com 2300 entrevistados, a grande maioria – quase 90% deles – afirmou já ter tido um líder que gerou desgaste mental ao exigir muitas demandas.

A pesquisa também mostrou que líderes homens causam mais esses efeitos negativos que gestoras mulheres. 

Dos entrevistados, 43% indicaram que o desgaste mental no ambiente de trabalho partiu de um homem e 32% indicaram que partiu de mulheres.

Qual seria então a primeira atitude a ser tomada pelas empresas? Diversos especialistas têm apontado que as organizações precisam estar atentas à saúde dos colaboradores.

Veridiana Police relembra a importância de as organizações revisitarem e intensificarem programas de proteção à saúde mental do trabalhador. 

Além disso, ela, assim como Raymond, enfatizam a necessidade de ambientes laborais mais saudáveis, empáticos, colaborativos, com líderes que ofereçam ajuda para lidar com eventuais dificuldades, que sejam respeitosos e livres de qualquer forma de discriminação, violência, abuso e assédio.

Ao portal Administradores, Wolnei Ferreira, membro do Comitê RH de Apoio Legislativo (Corhale) e advogado, fala que “é importante observar se as jornadas de trabalho não estão se estendendo exageradamente, se as folgas e pausas vêm sendo regularmente concedidas, assim como os períodos de férias”.

Precisamos citar também outra atitude bastante relevante: incentivar os funcionários a se desconectarem, a se desligarem do trabalho depois do expediente, nas folgas e férias, sem que eles enfrentem represálias por isso.

 

O direito a se desconectar do trabalho como prevenção ao Burnout

Vivemos em um mundo superconectado, com um mercado de trabalho muito competitivo. Diante disso, muitas pessoas têm dificuldades de parar de produzir.

Isso fica ainda mais evidente em pessoas que exercem seu trabalho de casa, isto é, em home office. 

Porém, não descansar, não desconectar a mente pode acelerar o desgaste físico e emocional, contribuindo para o Burnout.

Este é um aspecto tão importante que virou regra na França, resultando na Lei da Desconexão. Assim, os trabalhadores franceses têm o direito de não responder mensagens eletrônicas de seus chefes depois do horário de expediente.

De acordo com o ConJur, a lei vale para empresas com 50 ou mais funcionários e permite que empregados e empregadores negociem como será feito o uso de e-mails e aplicativos de mensagens (como WhatsApp e Telegram) fora do expediente.

A desconexão é muito mais do que uma compensação de horas. O respeito ao funcionário e à saúde mental, inclusive, já são mais valorizadas que o aumento de salário, para se ter uma ideia.

Portanto, apesar de estar sendo discutida nos tribunais brasileiros, levando em consideração o que já existe na Lei Trabalhista, não é sobre o que já temos.

É sobre mudar a cultura organizacional, o pensamento e acabar com hábitos que parecem inofensivos.

Que hábitos são esses? Falta de priorização das tarefas, excesso de horas extra, acúmulo de funções, mandar uma mensagem fora do horário de trabalho e esperar que ela seja respondida ali mesmo, fora do expediente, sob pena de repreensão.

Foi pensando nisso que separamos seis medidas estratégicas para gestores e líderes adotarem em prol da sua equipe e contra o Burnout. 

 

O gerenciador de tarefas e mais 5 estratégias contra o Burnout

Olhar para a saúde mental deve ser uma prioridade em todas as áreas da nossa vida. No trabalho não deve ser diferente.

Sabemos que colaboradores exaustos, ansiosos e estressados costumam apresentar baixos níveis de concentração e de produtividade no trabalho.

E mais: em 2020, um estudo da Deloitte concluiu que as empresas têm prejuízos de quase US$ 60 milhões com esgotamento, incluindo ausência, presenteísmo (funcionários com desempenho inferior ou funcionando com capacidade reduzida, chamado, hoje, de “quiet quitting”) e rotatividade. 

Para ajudar você a ser parte da solução, seja em empresas em modelo remoto ou em esquema de trabalho híbrido, trouxemos aqui algumas medidas que podem ser adotadas na prevenção de cenários que levam os colaboradores ao Burnout.

Agora que você já conhece os sinais de alerta, vamos à parte prática.

 

Incentive o respeito aos horários de trabalho de todos

Empresas com horários flexíveis ou com colaboradores que estão em fusos horários diferentes precisam deixar claro em que horários podem se comunicar com as pessoas.

Uma agenda a que todos tenham acesso é uma boa solução ou até mesmo um quadro de horários compartilhado. 

Estimule o respeito às horas de trabalho de cada um.

 

Repense a comunicação

É indispensável ter um canal aberto para se comunicar com o seu colaborador, para poder ajudá-lo. Da mesma forma, é importante criar boas práticas de comunicação.

A comunicação assíncrona é uma dessas boas práticas. Quando exigimos respostas imediatas, criamos um clima de ansiedade, pressão e estresse.

Desde o onboarding, informe à sua equipe que não é necessário ficar monitorando e-mails, Slack, WhatsApp, chat etc. o dia inteiro, o tempo todo.

Sem dúvida, precisamos de algumas respostas mais rapidamente em algumas situações, mas isso deve ser exceção, não regra. 

Oriente os colegas a usarem expressões como “isso não é urgente” ou “preciso ainda esta semana”, para que as pessoas saibam quando não devem ter pressa em responder.

 

Metas e feedbacks

Para evitar o esgotamento causado pela Síndrome de Burnout, a sua equipe precisa ter metas claras e realistas, bem como precisam de feedback contínuo.

 

Estabeleça prioridades

Ter uma lista de tarefas e de projetos que precisam ser entregues, organizados por prioridade, e com a identificação dos responsáveis pelas demandas diminui a sensação de ansiedade. E, vamos combinar, promove uma certa paz de espírito para todos.

 

Limite o tempo de trabalho estimulando o direito à desconexão

Seja no fim de semana, ao final de cada expediente ou em período de férias, o tempo de descanso dos seus colaboradores deve ser respeitado, para evitar o Burnout.

Estimule-os a realmente descansarem, a não fazerem horas extra e a usarem os benefícios que a empresa oferece.

Oriente  também os demais colegas da equipe a não falarem de trabalho em tempos livres.

Lembre-os de silenciar as notificações dos meios de comunicação com a empresa quando não estiverem em horário de trabalho.

 

Organize o trabalho da equipe usando um gerenciador de tarefas

Poder contar com um sistema que ajuda no gerenciamento de trabalho é uma ótima solução, tanto para gestores quanto para colaboradores. 

E não estamos falando isso apenas em relação à prevenção do Burnout, mas também no nível de organização do fluxo de trabalho e da gestão das equipes.

Além de ajudar a priorizar tarefas e deixar claras as metas, um gerenciador de tarefas mantém centralizada a comunicação, reunindo informações, arquivos e atualizações sobre as demandas, de maneira ordenada, em uma única plataforma.

Com o FlowUp, um software completo de gestão do trabalho, você consegue acompanhar as demandas de cada colaborador, definir prazos e distribuir as tarefas de acordo com a capacidade da equipe, evitando o acúmulo de tarefas que levam ao estresse e, consequentemente, ao Burnout.

 

Conclusão

Portanto, mesmo que essa ainda não seja uma lei trabalhista, como acontece na França e até mesmo em outros países da União Europeia, queremos te incentivar a adotar limites na conexão com a sua equipe como forma de prevenir o Burnout. 

Queremos te encorajar também a praticar as estratégias que apresentamos aqui, caso ainda não faça uso delas, e nos contar, posteriormente, se teve bons resultados com a sua equipe.

E, não se esqueça, para diminuir o esgotamento mental causado pelo trabalho e por situações de estresse, equilíbrio e bom senso são palavras-chave.