Gestão de Pessoas

Como a liderança positiva pode mudar sua empresa

22 min de leitura | 22 de abril 2021

Um líder irredutível, que sabe tudo, dá broncas, é temido pelos funcionários e tem sempre a última palavra. Essa é uma visão de liderança que não cabe mais hoje em dia. Mesmo que ela ainda exista por aí, não é o ideal de ninguém ser liderado por alguém assim, não é? Porém, muitas vezes, a alternativa a esse modelo não parece clara. Como liderar, então? Uma boa sugestão é através da liderança positiva.

A liderança positiva é um modelo que acredita que valorizar e investir nas qualidades dos funcionários traz mais resultados do que repreendê-los sobre as suas ineficiências. A diferença é apenas de foco, mas isso já muda muita coisa. 

Não se engane se você achar que esse é um modelo delicado demais, que não vai conseguir extrair o melhor das pessoas ou que vai deixar os seus funcionários “muito à vontade”. Na verdade, talvez até deixe e isso não é uma coisa ruim. Pessoas felizes trabalham melhor. 

Mas, se essa visão ainda não cabe na sua mente, ou se você apenas quer aprender mais sobre a liderança, acompanhe a leitura.

 

Leia os tópicos deste texto como preferir:

 

Qual é o papel do líder para a empresa?

Como líder, você já se fez essa pergunta? Muita gente é promovida sem o menor treinamento, portanto talvez nunca tenha tido a oportunidade de pensar sobre a questão. Contudo, a resposta para essa pergunta é o que vai definir a forma de atuação de uma liderança. 

Por definição, um líder é o responsável por uma equipe, um setor, uma área de atuação. Ele está alí para garantir que a visão da empresa se cumpra e que as metas sejam alcançadas. Para isso, vai lançar mão de estratégias e será cobrado pelos resultados delas, por seus superiores. 

Qual é a função do líder, então? Dar resultados? É uma maneira de se enxergar, até muito comum. O problema é que ao olhar apenas para números, as pessoas ficam de lado. E são as pessoas que fazem os números acontecerem ou não. Logo, o foco do líder deve ser capacitar pessoas. 

Como tornar o seu time o melhor que ele pode ser? Para responder essa pergunta surgiram alguns modelos de liderança. Neste texto, apresentaremos aquele que achamos o mais frutífero: a liderança positiva. Porém, esse infelizmente ainda não é o mais presente nas organizações. Antes de apresentá-lo, vamos ver de que forma isso costuma acontecer nas empresas.

 

O modelo antigo de liderança e seus problemas

Uma boa forma de diferenciar o modelo antigo de liderança para a positiva é perceber onde o líder foca ao olhar para o colaborador. Na forma antiga, o foco estava nas fraquezas. Os funcionários eram cobrados por suas fragilidades e deviam lutar para aperfeiçoá-las.

Ao evidenciar as fraquezas, a regra do ambiente se torna o medo. Um bom líder, nessa concepção, é aquele que é temido. E um bom funcionário é quem se adequa, quem “faz o que é mandado”. 

Esse tipo de visão distancia o líder da sua equipe e gera um ambiente intimidador. Essa é a receita para a morte da inovação e da motivação. Em um local em que errar praticamente significa demissão, não há estímulo para fazer nada diferente. Por consequência, é um ambiente em que o trabalho é repetitivo e nada estimulante. Trabalhar é um fardo que se deve aguentar para pagar as contas. Quem se sacrificar mais, talvez tenha a chance de se tornar o líder um dia e fazer a mesma coisa com outro grupo de pessoas, fazendo a roda girar.

 

É importante entender que este modelo está ultrapassado:

Não há mais espaço para ele no perfil do trabalhador atual, nem no modelo de trabalho, dentro da economia de projetos que vivemos. As pessoas agora não buscam apenas uma carreira e status, mas também querem sentir que estão deixando uma contribuição no mundo. Isso não é possível em uma empresa em que a sua voz não é levada em conta. 

Além disso, a demanda de trabalho está cada vez mais específica e multidisciplinar, exigindo uma integração de equipes e união de competências. O papel do líder fica mais próxima do gestor de projetos a cada dia que passa. Fica impensável uma empresa, dentro desse universo, que não valorize a inovação e a criatividade. 

A liderança não é mais entendida como exercício da hierarquia e sim, uma habilidade que garante a união e integração das pessoas. O líder atual deve ter inteligência emocional, compreender o lado humano e saber como identificar o melhor nas pessoas e promover isso. Não é à toa que a liderança positiva tem feito tanto sucesso. Quer saber mais sobre ela? Continue a leitura.

Leia também: O que são soft skills e porque são importantes pra sua carreira

 

O que é a liderança positiva?

Um líder possui muitas funções no seu dia a dia, como inspirar, comandar e cobrar, dentre tantas outras. Ele pode exercer essas funções por duas vertentes, ou olhando para o que está faltando ou pelo o que já existe. A lógica da gestão pelos pontos fracos dos colaboradores é que foi mais utilizada ao longo do tempo. 

A liderança positiva é um modelo que se concentra no desenvolvimento das forças e habilidades individuais dos colaboradores, em vez de focalizar nas fraquezas. Em contraste com o modelo tradicional que destaca os pontos fracos e promove um ambiente de trabalho baseado no medo, a liderança positiva visa criar um ambiente inspirador, motivador e centrado no crescimento pessoal e profissional.

Nesse contexto, o líder positivo procura identificar e promover os pontos fortes de cada membro da equipe. Em vez de se basear em cobranças constantes e críticas, ele busca potencializar as habilidades naturais de seus colaboradores, encorajando a inovação, a criatividade e a autonomia. A ideia é criar um espaço onde os funcionários sintam que suas contribuições são valorizadas e que possuam espaço para desenvolver suas próprias ideias.

 

Acha que já ouviu isso em algum lugar?

Se você está com a impressão de que já ouviu isso antes, é porque a liderança positiva bebe diretamente da psicologia positiva. Em sua essência, a psicologia positiva propõe olhar para o que o ser humano tem de melhor como potencial e investir nisso. Para essa teoria, o foco na melhoria dos pontos fracos não te torna uma pessoa distinta, porque é apenas aquilo que você faz de melhor que pode promover esse atributo. 

Imagine se um grande jogador de futebol, quando criança, não tivesse recebido o incentivo para se aperfeiçoar no esporte, mas antes fosse cobrado com muito mais peso para aprender matemática e outras disciplinas. Ele poderia nunca se tornar genial no futebol e também continuaria não sendo incrível nas outras disciplinas, apenas seria um pouco melhor. Esse tipo de pensamento cria pessoas medíocres, que são razoavelmente boas em muitas coisas e não são excelentes em nada. 

Se Beethoven tivesse investido mais em aprender pintura do que música, porque ele era terrível pintando, o mundo ganharia mais um pintor regular e perderia um músico espetacular. 

Isso não quer dizer que devemos esquecer todo o resto e focar apenas no que queremos ser muito bons. Existem conhecimentos básicos de outras áreas que são importantes também, porém esse não deve ser o foco e nem o esforço principal.

 

O problema vem lá de trás…

Pare para pensar, essa é a lógica que seguimos desde a escola. É muito comum existir aulas de reforço escolar para aquelas disciplinas que você não vai bem, porém é raro ver aulas de aperfeiçoamento para o que você tem uma grande aptidão.  

Como líder, há a oportunidade de quebrar esse ciclo de erro e testar uma nova forma. Uma pessoa que faz exatamente aquilo que ela sabe que faz muito bem não trará muito mais resultado? Então, por que cobrar por aquilo que ela não sabe ao invés de dar mais oportunidade de fazer o que ela sabe? Certamente, haverá outra pessoa que poderá complementar o furo que ela deixou, sendo genial também, se houver essa oportunidade. 

Se você ainda não está conseguindo perceber, confira agora alguns benefícios da liderança positiva.

 

Quais são os benefícios da liderança positiva?

 

1. Aumento do engajamento e performance 

Como dar 100% de si em um trabalho que você não acredita? colaborar ao máximo com pessoas que você vê como seus inimigos? Como propor novos caminhos, quando você sabe que pode ser ridicularizado por uma ideia ou até demitido por um erro?

Ambientes opressores não estimulam engajamento. E um time que não está engajado, nunca vai dar o seu melhor no trabalho. Muitas vezes, essas pessoas nem vão perceber que não estão dando o seu melhor. Só quando conhecerem uma realidade mais construtiva é que vão perceber o que estava acontecendo. 

A liderança positiva, por outro lado, valoriza as competências individuais de cada colaborador, fazendo ele se sentir parte e mais responsável. O fruto disso é uma melhora nos indicadores de desempenho, como podemos ver abaixo.

 

2. Melhores resultados

Nesse contexto apresentado, alcançar resultados é uma consequência. Uma empresa que valoriza os seus funcionários faz com que eles queiram bater metas. Além disso, eles começam a ter uma visão mais profunda dos objetivos da empresa, transbordando a sua função e se alinhando também ao propósito daquele negócio.

Isso não só faz com que as pessoas trabalhem melhor, mas também com que elas queiram ficar.  

 

3. Retenção de talentos

Em qual lugar você deseja trabalhar? No que você é valorizado e desafiado segundo as suas habilidades ou em um lugar que você está sempre com medo de ser demitido? Certamente a primeira opção é melhor. 

Trabalhar em um ambiente opressor é pesado, estressante e não dura. Mesmo que os benefícios sejam muito atrativos, não se cria uma relação de confiança entre empresa e funcionário. Na primeira oportunidade um pouquinho melhor que aparecer, é fato que ele vai embora. Não há lealdade quando a via é de mão única.

A liderança positiva promove valorização, motivação, o que dá uma perspectiva de crescimento para os colaboradores e os faz querer ficar. 

 

4. Equipe mais saudável

As taxas de burnout entre funcionários das empresas vem aumentando consideravelmente nos últimos anos. A falta de um equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional, assim como os ambientes de trabalho estressantes são algumas das principais causas disso. 

O dano, à primeira vista, pode parecer apenas pessoal, já que o mais prejudicado é o colaborador, porém o reflexo que isso traz para a empresa é desastroso. Primeiro, pela mensagem que isso passa para o mundo. A visão que é formada sobre a empresa não é positiva e mesmo que o salário e benefícios sejam muito atrativos, esse não será um lugar muito desejado pelas pessoas para trabalhar. 

Segundo, porque isso também significa grandes prejuízos financeiros para a companhia. Ter um funcionário afastado por doença é um grande custo. Além disso, como já vimos acima, um ambiente opressor não estimula a cooperação, a criatividade e a inovação. 

Assim, a longo prazo, o benefício de ter uma equipe saudável é muito grande.

 

Quais as características da liderança positiva?

Agora você já percebeu a diferença que faz uma liderança positiva em relação ao modelo tradicional, mas o que significa na prática essa forma de atuação? Confira agora algumas características para você bater o olho e perceber que aquele local é diferente. 

 

Bons relacionamentos

Um dos termômetros mais fáceis para se perceber um local de trabalho é observar o relacionamento entre os colaboradores. Um ambiente de trabalho em que as pessoas não se gostam ou não possuem o menor vínculo não é um lugar positivo. Normalmente isso acontece quando o medo impera, quando existe o receio de que alguém puxe o seu tapete ou de ser julgado. 

Ambientes assim não geram crescimento, porque não há conhecimento compartilhado. Todos estão sempre tentando esconder as suas falhas, quebrando o ciclo de aprendizagem que surge com esses erros. 

Logo, se há uma liderança positiva é fácil perceber a diferença nos relacionamentos. Há empatia, confiança, gentileza. Pode não haver amizade entre as pessoas, mas existe um clima otimista e de colaboração.

 

Comunicação encorajadora

O foco na comunicação deve estar no encorajamento e apoio e não na crítica. As falas do líder são para impulsionar e não para colocar para baixo, já que a ideia na liderança positiva é a de desenvolver pessoas. 

Isso não significa que não haja repreensão ou feedbacks negativos, mas eles são feitos no particular, de forma objetiva, com o intuito de apontar melhorias para o crescimento profissional da pessoa. As avaliações são factuais e não opiniões meramente emocionais. 

 

Trabalho com significado

Um time que tem um senso de propósito não trabalha apenas para pagar os boletos. Ele entende a sua contribuição para a empresa, assim como os benefícios que o resultado do seu trabalho pode levar ao consumidor. Isso não é algo que é construído sozinho. É preciso que a liderança aponte o caminho para essa visão.

O resultado disso é claro, há menos stress, mais engajamento, satisfação. Logicamente, isso impacta nos resultados, que tendem a ser muito melhores. 

 

Clima positivo

Com a aplicação das 3 características acima, o clima positivo se torna apenas uma consequência. Contudo, vamos aprofundar um pouco o que significa esse “clima positivo”. Existem três emoções que são predominantes em ambientes de trabalho saudáveis, são elas: compaixão, perdão e gratidão.

A compaixão e o perdão são essenciais para evitar que o estresse diário escale para situações maiores. Desentendimentos se resolvem mais rápido e ninguém fica guardando rancor. Por outro lado, a gratidão é uma cola que une as pessoas. Ela faz a gente olhar por outra perspectiva e encontrar o lado positivo das coisas. Isso certamente auxilia na construção de vínculos e criação de confiança. 

 

Como aplicar/desenvolver a liderança positiva?

No papel parece um grande sonho, mas como colocar isso em prática? Existem algumas dicas práticas para você começar a aplicar a liderança positiva com a sua equipe, como você pode ver abaixo. 

 

Cultura de feedback

Ter uma avaliação sobre o seu trabalho é algo positivo. Somente dessa forma é possível saber se está indo bem ou mal. O que costuma acontecer, entretanto, é que o feedback só é dado quando há um problema e nas piores condições possíveis. Uma declaração feita no calor do momento, com raiva, que extrapola o limite profissional. Isso não ajuda em nada, só cria um medo dos funcionários em relação a liderança.

Ter uma cultura de feedback significa tornar isso uma prática comum e feita de maneira saudável, não só pelo líder, mas por todo o time. Contudo, é o líder que precisa dar esse exemplo. Com o tempo, a prática vai se espalhando e se tornando uma cultura.  

 

Comunicação transparente

Deixar os funcionários às cegas é a receita para gerar um clima pessimista. Quando se deixa várias lacunas em aberto, as pessoas preenchem com o que quiserem. Às vezes uma situação toma uma proporção muito maior, porque não foi comunicada corretamente e a imaginação se encarregou de fazer o estrago. 

Leia também: Como escrever e-mails que seus colegas vão ler

Por exemplo, se houver um rumor de demissão. É melhor esclarecer a situação logo, mesmo que ela seja verdade, do que deixar a fofoca sendo aumentada a cada boca que passa. Portanto, disponibilize informações sobre a empresa, faça reuniões e deixe a porta sempre aberta para quem desejar saber algo mais. 

 

Investimento na equipe

Quem não se sente valorizado ao receber um presente? Com a sua equipe é a mesma coisa. Ela vai se sentir mais desejada e importante se perceber que para a empresa, eles não são apenas mais um número, ou que só estão de passagem. 

Para trazer esse sentimento, é importante investir na sua equipe: cursos, treinamentos, palestras, congressos. É muito gratificante perceber que alguém te quer bem. Por consequência, a resposta costuma ser recíproca. 

 

Eventos e causas

Não há liderança positiva sem bons relacionamentos. Por isso, é importante criar oportunidades para o time se relacionar fora do ambiente de trabalho também, fora do estresse e das responsabilidades. Isso torna mais propício a criação de vínculos. 

Confraternizações e festas costumam ser até comuns nas empresas. Outra estratégia que pode dar certo é unir as pessoas em torno de causas. Por que não ajudar uma ONG? Essa pode ser uma boa oportunidade das pessoas encontrarem outras características em comum que não são perceptíveis no trabalho.

Como foi possível perceber, o chefe amedrontador que grita e sempre tem razão está com os dias contados. O modelo antigo de liderança cria ambientes de medo, egoísmo e pessimismo. Os colaboradores não se sentem à vontade uns com os outros, o que dificulta a troca de informações, estão sempre com medo de serem demitidos, o que aniquila as chances de inovação, e não enxergam um futuro na empresa, por isso nunca vão conseguir dar 100% de si. 

A liderança positiva por outro lado muda o foco para a valorização daquilo que as pessoas têm de melhor. Vale mais investir para que um colaborador transforme aquilo que é bom em algo excelente, do que insistir que transforme aquilo que é ele é ruim em algo apenas médio.

Os benefícios desse tipo de visão são inúmeros: aumento do engajamento da equipe, economia de recursos, retenção de talentos, equipe mais saudável e melhores resultados. Portanto, se você também deseja ver essa repercussão no seu time, estabeleça uma cultura de feedback, seja sempre transparente e invista na sua equipe. Desenvolver e capacitar pessoas, esse deve ser o papel do líder. 

Se quer descobrir como implantar uma cultura de feedback na sua empresa, então confira o nosso guia completo do feedback!